O drama do projeto: uma teoria acional do design

Felipe Kaizer


2019. Kaizer, Felipe. O drama do projeto: uma teoria acional do design. [The Drama of Designing: An Actional Theory of Design.] Tese de doutorado (Design). Ph.D. thesis (Design). Escola Superior de Desenho Industrial, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.


Resumo

A tese propõe uma nova maneira de ver o campo do design, de acordo com a qual o designing (ou projetar) é entendido como o desenrolar de uma situação dramática, constituída por diversas personagens reunidas em torno de um problema comum. A hipótese que norteia essa construção teórica é de que o design pode ser pensando não apenas como uma forma de produção, definida pela transformação material do mundo, mas também como uma forma de ação entre pessoas, de natureza efêmera. O objetivo da tese é, portanto, o de iluminar a dimensão acional do design, tendo em vista seu compromisso primordial com a criação de novas realidades. Ele atende a uma dificuldade persistente dos designers para compreender como e por que as situações criadas podem diferir das situações planejadas, considerando a imagem legada pela tradição das artes e ofícios do artista de gênio que trabalha em isolamento. Uma revisão dessa imagem tem início após a Segunda Guerra Mundial, quando grupos de arquitetos, designers e engenheiros unem-se em uma especulação comum sobre os métodos e as situações de projeto em geral. Emerge daí uma concepção do design como processo, a qual subjaz à posição atual dos profissionais de projeto frente ou dentro das organizações ou das instâncias de decisão e planejamento. Para construir esse argumento, parte-se na tese da teoria da ação de Hannah Arendt, descrita no seu livro The Human Condition (1958), e de uma problematização histórica de longo arco temporal das distinções conceituais que marcaram o surgimento do design moderno. A seguir, busca-se indícios que confirmem a hipótese em algumas das teorias que compõem, a partir dos anos 1960, o campo heterogêneo do design. Entre elas, destacam-se as de Herbert Simon, Bruce Archer, Horst Rittel e Richard Buchanan. Feito isso, extrai-se então o conceito de drama de um conjunto de teorias sobre teatro moderno, a fim de criar uma nova metáfora que explicite o projetar como uma atividade de um grupo de pessoas. Em suma, a metáfora do drama do projeto revela como uma conjunção de agentes em torno de um problema comum estabelece uma trama que determina o processo de design e, consequentemente, os seus produtos. Como modelo teórico, ela permite compreender como os agentes criam novas situações que fogem parcialmente ao seu controle e às suas expectativas. A metáfora indica ainda que a imprevisibilidade das ações vivenciada empiricamente pelos agentes é, na verdade, uma característica intrínseca ao processo de design, quando considerada a pluralidade de personagens que o constitui. Ao final da tese, discute-se, entre outras coisas, os limites teóricos dessa proposição e as suas consequências para a educação em design.

Palavras-chave

Design. Teoria do Design. História do Design. Ciência Política. Administração. Planejamento.


Abstract

The thesis proposes a new way of seeing the field of design, according to which designing is understood as the unfolding of a dramatic situation, consisting of various personas gathered together around a common problem. The hypothesis that guides this theoretical construction is that design can be thought not only as a form of production, concerned mainly with the material transformation of the world, but also as a form of action between people, ephemeral by nature. The objective of the thesis is therefore to throw light upon the actional dimension of design, bearing in mind its primary commitment to the creation of new realities. It addresses a persistent difficulty of designers to understand how and why created situations may differ from planned situations, considering the image bequeathed by the arts and crafts tradition of the artist of genius who works in isolation. After World War II this image begins to be reviewed, when groups of architects, designers and engineers came together in a speculation about design methods and situations in general. Hence, a conception of design as a process emerges, one which underpins the current position of design professionals in relation to or within organizations or planning and decision-making instances. In order to build this argument, the starting point of this thesis are Hannah Arendt’s theory of action, described in her book The Human Condition (1958), along with a historical problematization of long temporal arc of the conceptual distinctions that marked the emergence of modern design. Next, evidence that confirms the hypothesis is sought in some theories which compose, from the 1960s onwards, the heterogeneous field of design. Among them, those of Herbert Simon, Bruce Archer, Horst Rittel and Richard Buchanan stand out. After that, the concept of drama is extracted from a set of theories about modern theater, in order to create a new metaphor that makes explicit designing as a group activity. In short, the metaphor of the drama of designing reveals how a set of agents formed around a common problem establishes a plot that determines the design process and, consequently, its products. As a theoretical model, it allows for the understanding of how agents create new situations that in part evade their control and frustrate their expectations. The metaphor also indicates that the unpredictability of the actions experienced empirically by the agents is actually an intrinsic characteristic of the design process, considering the plurality of personas that constitutes it. At the end of the thesis, it is discussed, among other things, the theoretical limits of this proposition and its consequences for design education.

Keywords

Design. Design Theory. Design History. Political Science. Management. Planning.